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PESQUISA NA ESPANHA

Cientistas espanhóis patenteiam método para ativar resistência à seca em plantas

A equipe de pesquisadores é formada por membros do CSIC, da UPV e do Instituto Rocasolano de Físico-Química

14/03/2023 Autor: GuíaVerde

Um medicamento para ativar a resistência das plantas cultivadas à seca. É o que afirmam cientistas do Instituto de Biologia Molecular e Celular Vegetal (IBMCP), centro conjunto do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) e da Universidade Politécnica de Valência (UPV), e do Instituto Rocasolano de Físico-Química (IQFR) desenvolveram também do CSIC. É um mecanismo para ativar à vontade a sinalização do hormônio vegetal chamado ácido abscísico, chave na resposta adaptativa das plantas ao estresse hídrico. Neste trabalho são aplicadas técnicas biomédicas à biotecnologia agrícola, que deu origem a uma patente. Os resultados são publicados na Science Advances.

O ácido abscísico (conhecido como ABA) é um hormônio vegetal com importantes funções dentro da fisiologia vegetal. Participa dos processos de desenvolvimento e crescimento, bem como da resposta adaptativa ao estresse. Assim, a adaptação das plantas às situações de estresse causadas pelo déficit hídrico pode ser favorecida por meio da ativação desse fitormônio. Neste projeto, as equipas lideradas por Pedro Luis Rodríguez no IBMCP de Valência e Armando Albert no IQFR de Madrid, desenvolveram um método genético-químico para ativar esta via de forma induzível e sem penalizar o crescimento da planta.

Com base na estrutura atômica das proteínas envolvidas e usando técnicas de engenharia genética, os pesquisadores do CSIC criaram um receptor ABA modificado que é ativado por uma molécula mimética chamada iSB09. De acordo com os resultados do estudo, plantas portadoras desse receptor modificado e tratadas com iSB09 apresentam grande tolerância à seca. “Essa combinação ativa com eficiência a rota ABA e gera proteção ao acionar os mecanismos adaptativos da planta”, afirma Pedro Luis Rodríguez, do IBMCP (CSIC-UPV). "Individualmente, a molécula iSB09 também permite reduzir a perda de água por transpiração no tomateiro", destaca.

"Esta é a primeira vez que um receptor ABA é modificado em plantas cultivadas para adaptá-lo a uma molécula mimética do fitormônio", diz Armando Albert, pesquisador do IQFR-CSIC. “Essa molécula tem persistência maior que o próprio hormônio ABA, que tem meia-vida curta, e pode ser adicionada no momento certo para proteger a planta em situações de estiagem”, explica.

Desenvolver medicamentos contra a seca

De acordo com o estudo, essa combinação permite reduzir a dose do agrotóxico usado nas plantas cultivadas, pois a combinação com o receptor modificado potencializa o efeito da molécula. “Nosso objetivo é melhorar a resistência das plantas à seca e até, em casos extremos, permitir sua sobrevivência até que a irrigação seja restabelecida”, revela Rodríguez. “O objetivo é desenvolver drogas contra a seca aplicando o conhecimento molecular avançado desenvolvido no mundo vegetal”, comenta.

Para este trabalho, os pesquisadores do CSIC utilizaram estratégias anteriormente aplicadas no campo da biomedicina (conhecidas como 'drugdiscoveries' ou descoberta de drogas), mas neste caso transferidas para a biotecnologia agrícola. O método está protegido por patente do CSIC-UPV, pois o Instituto de Biologia Molecular e Celular Vegetal é um centro misto.

Segundo os pesquisadores, “a molécula iSB09 deve passar por estudos de segurança alimentar como qualquer agroquímico, algo que a empresa que explorar essa molécula cuidará. A introdução do receptor modificado, como toda modificação genética, está pendente de mudanças na legislação européia, por exemplo, a aceitação da técnica CRISPR na biotecnologia agrícola. Mas as empresas podem usar essa abordagem em outros países onde ela é permitida."